Que jogue a primeira pedra quem nunca assistiu um filme de Artes Marciais, Faroeste ou ainda de Super-Heróis e não quis imediatamente estar no lugar deles a ponto de imitá-los pela casa. Com o Esporte não é diferente, em especial o Triathlon que será abordado nesta matéria.

No esporte invariavelmente o apelo visual é enorme e geralmente vem acompanhado de corpos maravilhosos, bem moldados que parece terem sido esculpidos à mão, bicicletas com design futurístico, paisagens de encher os olhos e o clima de alegria envolvido em todas as atividades.

Tudo isto é ótimo, afinal todos os projetos, iniciativas e campanhas têm alguns objetivos em comum como:

  • Aumentar o número de praticantes e simpatizantes;
  • Promover competições melhores e consequentemente atrair mais público;
  • Melhorar os resultados financeiros e algumas vezes resultados individuais.

No caso do Triathlon bastou veicular campanhas antes, durante e após os Jogos Olímpicos na mídia que alguém em algum lugar pensou: “ Uau que louco o Triathlon”, o mesmo acontece, inclusive numa proporção muito maior, no circuito IronMan.

Pronto a sementinha foi plantada e agora mais um futuro esportista está no mercado.

Os primeiros passos do futuro atleta

Com base na percepção de nosso futuro atleta e na contramão das reais necessidades e passos corretos, as primeiras coisas que vêm à mente estão relacionadas à moda, glamour e apelo visual, que claramente demonstram que as campanhas funcionam e assim como num ritual corre para internet em busca de uma bike de contrarrelógio irada e tecnológica, um capacete aerodinâmico, um tênis combinando com a camiseta e não podemos esquecer do GPS.

Mas em segundo plano vem a questão de onde treinar, que inevitavelmente se divide entre treinar sozinho, como um autodidata ou com algum amigo que posta fotos nas redes sociais o tempo todo, inclusive com a famosa tatuagem IM.

A ideia de ter um treinador nem passa pela cabeça

É comum que pessoas atingidas por tais campanhas que tem este interesse específico despertado, sejam as que já fazem algum tipo de esporte, mesmo que uma corridinha no parque aos finais de semana e já vindo com preceitos do autodidatismo, claramente acreditam que não precisam de orientação. Afinal de contas correr ou pedalar é fácil, não precisam de ninguém para orientar em atividades tão óbvias, quando muito, o novo atleta se matricula numa natação, mas nem sempre para ter aulas, às vezes simplesmente para usar a piscina.

A pergunta que inicialmente deveria ser feita é “ O que devo fazer para iniciar no esporte? ”

Vamos agora abordar o Triathlon de uma forma mais específica, lembrando que se trata de um Esporte e sendo assim usamos o corpo, fazemos força, chegamos perto e até ultrapassamos os limites e invariavelmente sofremos durante e após a prática.

Costumo perguntar aos atletas que me procuram quais os dias que tem disponibilidade para a preparação física, seja numa academia, em casa, no condomínio ou qualquer lugar onde tenha uma orientação e muitas vezes as respostas são:

“Preciso fazer? ”, “Só tenho 1 dia na semana. ”, “Não tenho tempo.”

O pensamento errôneo é que correndo, pedalando e nadando somente o atleta vai estar condicionado e preparado para o esporte. No aspecto físico de alguns anos para cá tenho notado uma série de lesões em diversos atletas conhecidos meus e também de outros Treinadores amigos e posso afirmar sem dúvidas que a grande maioria destas lesões estão relacionadas a uma total ausência ou ainda uma preparação física deficitária.

Flexibilidade

É comum o atleta alongar-se levemente antes e após a corridinha e achar que é suficiente. Este alongar-se é suficiente como aquecimento, mas onde está o trabalho de real ganho de amplitude articular que será promovida pelo alongamento muscular?

Sessões especiais de trabalho de Flexibilidade devem ser promovidas em dias alternados aos trabalhos musculares ou atividades específicas do esporte e assim atingir níveis mais elevados desta capacidade e quando uma passada mais alongada for exigida, um movimento mais amplo se faça necessário o músculo não se lesione porque estava “encurtado” demais.

Força Muscular

Quando o atleta corre, nada ou pedala ganhará também em força, mas somente se fizer trabalhos específicos e com certeza um determinado limite será atingido com este tipo de estímulo. Com trabalhos corretos, direcionados e específicos podemos tornar um músculo ou grupo muscular mais forte, mais rápido e capaz de suportar a exigência do Triathlon e assim não se lesionar porque a atividade foi mais forte do que poderia suportar, como numa sequência de tiros curtos em que o atleta nem sempre tem a percepção de esforço apurada, passa do ponto e lesiona-se.

Resistência Muscular

Temos então músculos fortes e flexíveis e assim conseguimos economizar nos movimentos e evitar lesões, mas para praticar um determinado esporte por longos períodos que podem chegar a mais de 12 horas os músculos e demais estruturas tem que possuir a capacidade de resistir a movimentos repetitivos, que fazem doer, que inundam nosso corpo com substâncias “loucas” para fazer com que paremos a atividade. Com certeza um pouco da capacidade resistência nós ganharemos com práticas das modalidades em si, como corrida, natação e ciclismo mas precisamos de muito mais do que a atividade específica pode nos dar.

Existe uma gama de outras atividades que podem ocorrer antes ou em paralelo à esta iniciação ao esporte e aqui podemos citar algumas como Musculação, Pilates e exercícios Funcionais que quando integradas ao processo de formação funcionam muito bem.

Aspectos técnicos

Não é fácil planejar, dimensionar, adaptar e desenvolver todos os treinamentos com foco no desenvolvimento físico e de igual dificuldade estão os aspectos técnicos e neste sentido é que somos de imensa importância, nós os Técnicos.

Aspectos técnicos estão diretamente ligados ao desempenho do atleta, podendo refletir imediata ou posteriormente nos resultados, no corpo e na mente, seja com uma boa performance em uma prova ou ainda em um simples treinamento de natação em fase inicial.

Não vamos entrar em detalhes pois seria pouco espaço para tantas informações. Um dos aspectos ligados a técnica mais importante ao meu ver é a informação correta e esta informação não está ligada somente ao antes, como ver um vídeo de como se faz e reproduzir, mas também ligada ao durante e pós execução. A informação correta e correções de desvios possuem extrema importância no exercício no aspecto técnico, mas importância ainda maior no aspecto físico, visto as interferências positivas ou negativas que podem causar.

Aspectos psicológicos

Existem diversas variáveis que influenciam no aspecto psicológico, mas vou ressaltar duas delas, uma positiva e uma negativa que interferem diretamente no ciclo de um atleta.
A sensação de dever cumprido e meta atingida estão no ponto mais alto das influências positivas. Quando realizamos algo, temos imediatamente o prazer de saber que podemos fazer o que nos propusemos e então ficamos ainda mais confiantes, pois atingir objetivos é o que nos move e nos leva além.

Aspectos negativos não faltam, mas talvez o pensamento “Não sou capaz” seja o mais forte na quebra de um ciclo de treinamento que vai do iniciante que apenas caminha, ao atleta de nível elevado. Este não ser capaz, por sua vez, pode estar diretamente ligado aos resultados que não vêm e aqui podemos nos perguntar o porquê, analisar e corrigir o rumo das coisas, mas também podem estar ligados as lesões que são foco de nossa discussão.

Lesões, afastamento e desmotivação

Chegamos ao final de uma pequena discussão que devemos levar em consideração se quisermos melhorar o desempenho de nossos atletas e digo atletas de todos os níveis, desde o iniciante ao que almeja participar de campeonatos mundiais por exemplo.

Posso dizer com certeza que a pergunta não é se o atleta quer ou não melhorar a performance, mas sim quando irá melhorar, pois mesmo que comecem com o discurso de querer só curtir ou melhorar a qualidade de vida, em algum momento vão querer melhorar e questionar os resultados, seja em alguns segundos ao menos seu desempenho, alguns metros, melhorar a condição física ou estética.

Cabe aos técnicos demonstrar e convencer mais e mais pessoas da importância da preparação física e técnica prévia e em paralelo a prática do esporte em questão, para que assim evitemos ou minimizemos lesões de qualquer tipo, por consequência diminuindo os afastamentos das atividades e o mais importante, evitando que nosso atleta se desmotive.

Lesões podem ser causadas por inúmeros fatores e, sendo assim, temos que diminuir enormidade de variáveis através de nosso conhecimento dos aspectos que abordamos nos itens anteriores. Se as lesões são frequentes ou graves, inevitavelmente o atleta se perguntará se ele consegue superar o que a atividade exige ou se tem força de vontade e determinação para superar dias ou meses de recuperação.

Passadas as fases da lesão e do afastamento, chegamos ao último estágio que é a desmotivação do atleta.

Nesta fase parece que um ciclo se fechou de forma negativa, onde os apelos visuais e emocionais nos trouxeram os clientes atletas, durante este processo algo dá errado e não mantemos a roda girando, o aluno se desmotiva e um ciclo difícil de ser retomado se fecha.

Não importa se o atleta é resistente a determinadas práticas, o que importa é se ele vai conseguir e o mais importante, com saúde, façamos desta preparação um aspecto óbvio no ingresso de novos atletas ao nosso esporte. Façamos nossa parte com excelência ao mostrar os benefícios, pois com certeza a mídia fez a parte dela mandando clientes.

E você atleta, está fazendo sua parte?